Alguns territórios trazem consigo o estigma da crueldade e da loucura dos antepassados que ali viveram. Marcas profundas que o tempo é incapaz de apagar.
Vales imensos são condenados, amaldiçoados e interferem de forma negativa e direta no psíquico do que vem ali morar, fazendo-os sofrerem as mais terríveis influências e perseguições espirituais. Pessoas inocentes, que nada tiveram diretamente com os fatos ali ocorridos, acabam sendo punidas, por capricho do destino, por coabitarem uma terra condenada.
Embora céticos e religiosos, crentes em determinado poder superior independente do título de seus deuses, defendem a não existência da expiação pós vida ou pós morte, mas todos concordam em uma coisa: algumas coisas são absolutamente inexplicáveis.
A bíblia cristã, no livro de Mateus capítulo vinte e sete, descreve que Judas Iscariotes, depois de trair Jesus, arrependeu-se da traição e tenta devolver as trinta moedas alegando que mentira e suplica pela libertação do preso. Diante da recusa, espalha pelo chão do templo as moedas malditas e comete suicídio por meio de forca.
Os doutores da lei, recolhem as moedas e, sabedores de que se tratava de um dinheiro maldito, responsável por uma traição, pelo derramamento do sangue de Jesus filho de Maria e do carpinteiro nazareno José e do próprio suicídio de seu traidor Judas, reconhecem que elas, as moedas, não devem se misturar com o tesouro, donativos dos fieis e assim, decidem comprar um terreno que denominado Campo do Oleiro (possivelmente um local de extração de argila) e determinam que o local seja destinado ao sepultamento de estrangeiros, um cemitério para os mortos indigentes. Esse local passa a ser reconhecido como uma terra maldita, terra do preço do sangue justo, e nela, só habitaria à partir de então, os pobres e miseráveis depois de sua morte.
No século XVI, O vale do Anhangabaú, ou na língua tupi anhangaba-y, era uma terra indígena. O vale recebeu esse nome devido ao rio homônimo. Seu significado: Rio do malefício, da diabrura, do feitiço, do diabo.
As tribos que habitavam o local, nativos da região e donos légítimos antes da chegado do povo branco europeu, batizaram o local com esse nome devido a suas crenças e conhecimentos populares que acreditavam ser aquele lugar amaldiçoado. O Pagés das tribos orientavam seus povos a não beber e nem se banhar nas aguás do rio Anhangabaú, suas águas eram impróprias para o consumo pois causava todo tipo de doenças a quem dela consumia, ou até mesmo se banhava, fato que quase veio a disimar seus povos.
Segundo o povo indigina, o lugar era habitado por Anhangá, uma terrível criatura que protegia a mata, o rio e os animais que ali viviam.
Para o povo Tupi, o Anhangá se apresenta sob a forma de vários animais, entre eles galinha do mato, morcego, macaco, rato, humano mas principalmente como um veado branco com olhos de fogo e uma cruz na testa entre os olhos. Quando tem contato com algum humano, traz para quem o viu a desgraça e os lugares freqüentados por ele são ditos mal-assombrados. Ele protege os pequenos animais e plantas dos seres humanos, ou seja, não deixavam nem os índios caçarem para subsistência.
Com a chegada dos bandeirantes portugueses ao local, os índios que ali habitavam foram tomados como escravos. Muitos bravos guerreiros, na tentativa de defenderem o que era seu de fato e de direito, resistiram e acabaram sendo mortos. Após a brutal carnificina, seus corpos foram jogados no rio Anhangabaú e levados pela correnteza impregnando todo o local com seu sangue inocente.
A terra, após a “pacificação”, tornou-se chácara de propriedade do Barão de Itapetininga, conhecida como “chácara do chá”, hoje, “viaduto do chá”. Já no século 17, as pessoas usavam a água do rio para lavar roupas e objetos e até mesmo tomar banho. Até o ano 1822 os moradores vendiam chá e agrião por isso o nome da chácara. Para chegar ao outro lado do morro, era preciso atravessar a Ponte de Lorena, que em 1855 se transformou na Rua Formosa.
A urbanização só veio a partir do projeto de construção do Viaduto do Chá, em 1877, que resultou na desapropriação das chácaras que ficavam ali. Depois de um período de descaso, o lugar foi jardinado, o rio, canalizado e, em 1910, tornou-se o Parque do Anhangabaú, dividindo a nova São Paulo da velha. A primeira grande reforma do espaço foi nos anos 40 com a criação das ligações subterrâneas às Praças Ramos de Azevedo e Patriarcas – hoje conhecida como Galeria Prestes Maia.
O centro é lugar de grande agitação que cresceu tanto quanto a cidade. Preocupada com a revitalização da área, na década de 80, a Prefeitura de São Paulo organizou um concurso que resultou no novo visual do Vale. Jardins, esculturas e três chafarizes compõem o quadro charmoso do local.
Devido sua extensão, muitas manifestações culturais ocorreram nesse endereço. A mais significativa foi o Comício das Diretas Já, em 16 de abril de 1984. Cerca de 1,5 milhões de pessoas se reuniram para o maior comício público da história brasileira.
Atualmente, o Vale do Anhangabaú recebe eventos diversificados, incluindo muitas das atrações da Virada Cultural, maratona paulistana de 24 horas de cultura pelos quatro cantos da cidade. Quem passa por lá também pode eventualmente presenciar apresentações teatrais que às vezes são encenadas ali mesmo.
Localizado no centro, entre os Viadutos do Chá e Santa Ifigênia, o Vale reúne o prédio da Prefeitura de São Paulo, o Teatro Municipal, a Escola Municipal de Balé, o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e um campus universitário. É também rodeado por grandes edifícios.
Quem mora ou passeia pela cidade não pode deixar de conhecer o Vale do Anhangabaú. Além de ter muito a contar sobre a história paulistana, o lugar é com certeza um dos mais belos cartões postais de São Paulo.
Mas e a maldição?
O vale do diabo, como fora batizado por seus primeiros habitantes traz consigo a sina de ser o espaço brasileiro, palco das maiores tragédias do país: Castelinho da rua Apá, 1937, Crime do poço em 1948, Jovem estuprado, estrangulado e jogado no fosso do elevador do edifício Martinelli na década de 60, incêndio no Edifício Andraus em 1972, incêncio no edifício Joelma em 1974…
Berço dos maiores arranha-céus do país, em sua volta está localizado centenas de prédios altos e alguns centenários, dentre esses são tidos como mal-assombrados o prédio dos correios, o teatro municipal, o edifício Martinelli, Edifício Joelma o Edifício Andraus além da câmara dos vereadores de São Paulo.
É a única região urbana do Brasil em que se concentram tantos casos sobrenaturais. Seria a ação do Anhangá punindo os seres humanos por terem destruído toda a natureza em volta do rio Anhangabaú? Sensitivos afirmam que o vale do Anhangabaú emite energia muito ruim, e que as tragédias ocorridas são frutos da absorção desta energia.* Este texto é parte do livro homônimo.
Vales imensos são condenados, amaldiçoados e interferem de forma negativa e direta no psíquico do que vem ali morar, fazendo-os sofrerem as mais terríveis influências e perseguições espirituais. Pessoas inocentes, que nada tiveram diretamente com os fatos ali ocorridos, acabam sendo punidas, por capricho do destino, por coabitarem uma terra condenada.
Embora céticos e religiosos, crentes em determinado poder superior independente do título de seus deuses, defendem a não existência da expiação pós vida ou pós morte, mas todos concordam em uma coisa: algumas coisas são absolutamente inexplicáveis.
A bíblia cristã, no livro de Mateus capítulo vinte e sete, descreve que Judas Iscariotes, depois de trair Jesus, arrependeu-se da traição e tenta devolver as trinta moedas alegando que mentira e suplica pela libertação do preso. Diante da recusa, espalha pelo chão do templo as moedas malditas e comete suicídio por meio de forca.
Os doutores da lei, recolhem as moedas e, sabedores de que se tratava de um dinheiro maldito, responsável por uma traição, pelo derramamento do sangue de Jesus filho de Maria e do carpinteiro nazareno José e do próprio suicídio de seu traidor Judas, reconhecem que elas, as moedas, não devem se misturar com o tesouro, donativos dos fieis e assim, decidem comprar um terreno que denominado Campo do Oleiro (possivelmente um local de extração de argila) e determinam que o local seja destinado ao sepultamento de estrangeiros, um cemitério para os mortos indigentes. Esse local passa a ser reconhecido como uma terra maldita, terra do preço do sangue justo, e nela, só habitaria à partir de então, os pobres e miseráveis depois de sua morte.
No século XVI, O vale do Anhangabaú, ou na língua tupi anhangaba-y, era uma terra indígena. O vale recebeu esse nome devido ao rio homônimo. Seu significado: Rio do malefício, da diabrura, do feitiço, do diabo.
As tribos que habitavam o local, nativos da região e donos légítimos antes da chegado do povo branco europeu, batizaram o local com esse nome devido a suas crenças e conhecimentos populares que acreditavam ser aquele lugar amaldiçoado. O Pagés das tribos orientavam seus povos a não beber e nem se banhar nas aguás do rio Anhangabaú, suas águas eram impróprias para o consumo pois causava todo tipo de doenças a quem dela consumia, ou até mesmo se banhava, fato que quase veio a disimar seus povos.
Segundo o povo indigina, o lugar era habitado por Anhangá, uma terrível criatura que protegia a mata, o rio e os animais que ali viviam.
Para o povo Tupi, o Anhangá se apresenta sob a forma de vários animais, entre eles galinha do mato, morcego, macaco, rato, humano mas principalmente como um veado branco com olhos de fogo e uma cruz na testa entre os olhos. Quando tem contato com algum humano, traz para quem o viu a desgraça e os lugares freqüentados por ele são ditos mal-assombrados. Ele protege os pequenos animais e plantas dos seres humanos, ou seja, não deixavam nem os índios caçarem para subsistência.
Com a chegada dos bandeirantes portugueses ao local, os índios que ali habitavam foram tomados como escravos. Muitos bravos guerreiros, na tentativa de defenderem o que era seu de fato e de direito, resistiram e acabaram sendo mortos. Após a brutal carnificina, seus corpos foram jogados no rio Anhangabaú e levados pela correnteza impregnando todo o local com seu sangue inocente.
A terra, após a “pacificação”, tornou-se chácara de propriedade do Barão de Itapetininga, conhecida como “chácara do chá”, hoje, “viaduto do chá”. Já no século 17, as pessoas usavam a água do rio para lavar roupas e objetos e até mesmo tomar banho. Até o ano 1822 os moradores vendiam chá e agrião por isso o nome da chácara. Para chegar ao outro lado do morro, era preciso atravessar a Ponte de Lorena, que em 1855 se transformou na Rua Formosa.
A urbanização só veio a partir do projeto de construção do Viaduto do Chá, em 1877, que resultou na desapropriação das chácaras que ficavam ali. Depois de um período de descaso, o lugar foi jardinado, o rio, canalizado e, em 1910, tornou-se o Parque do Anhangabaú, dividindo a nova São Paulo da velha. A primeira grande reforma do espaço foi nos anos 40 com a criação das ligações subterrâneas às Praças Ramos de Azevedo e Patriarcas – hoje conhecida como Galeria Prestes Maia.
O centro é lugar de grande agitação que cresceu tanto quanto a cidade. Preocupada com a revitalização da área, na década de 80, a Prefeitura de São Paulo organizou um concurso que resultou no novo visual do Vale. Jardins, esculturas e três chafarizes compõem o quadro charmoso do local.
Devido sua extensão, muitas manifestações culturais ocorreram nesse endereço. A mais significativa foi o Comício das Diretas Já, em 16 de abril de 1984. Cerca de 1,5 milhões de pessoas se reuniram para o maior comício público da história brasileira.
Atualmente, o Vale do Anhangabaú recebe eventos diversificados, incluindo muitas das atrações da Virada Cultural, maratona paulistana de 24 horas de cultura pelos quatro cantos da cidade. Quem passa por lá também pode eventualmente presenciar apresentações teatrais que às vezes são encenadas ali mesmo.
Localizado no centro, entre os Viadutos do Chá e Santa Ifigênia, o Vale reúne o prédio da Prefeitura de São Paulo, o Teatro Municipal, a Escola Municipal de Balé, o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e um campus universitário. É também rodeado por grandes edifícios.
Quem mora ou passeia pela cidade não pode deixar de conhecer o Vale do Anhangabaú. Além de ter muito a contar sobre a história paulistana, o lugar é com certeza um dos mais belos cartões postais de São Paulo.
Mas e a maldição?
O vale do diabo, como fora batizado por seus primeiros habitantes traz consigo a sina de ser o espaço brasileiro, palco das maiores tragédias do país: Castelinho da rua Apá, 1937, Crime do poço em 1948, Jovem estuprado, estrangulado e jogado no fosso do elevador do edifício Martinelli na década de 60, incêndio no Edifício Andraus em 1972, incêncio no edifício Joelma em 1974…
Berço dos maiores arranha-céus do país, em sua volta está localizado centenas de prédios altos e alguns centenários, dentre esses são tidos como mal-assombrados o prédio dos correios, o teatro municipal, o edifício Martinelli, Edifício Joelma o Edifício Andraus além da câmara dos vereadores de São Paulo.
É a única região urbana do Brasil em que se concentram tantos casos sobrenaturais. Seria a ação do Anhangá punindo os seres humanos por terem destruído toda a natureza em volta do rio Anhangabaú? Sensitivos afirmam que o vale do Anhangabaú emite energia muito ruim, e que as tragédias ocorridas são frutos da absorção desta energia.* Este texto é parte do livro homônimo.
Luciano de Assis ( Escritor e Jornalista)