Entre os séculos XVI e XVII, corriam sobre as matas do Boigi numerosas lendas. Terríveis e fantasmagóricas histórias e que chegavam a afastar muita gente da intenção de adentrar as, quase, impenetráveis florestas da região.
Antigos cronistas de Jundiaí, onde iniciava a grande floresta, escreveram sobre essas lendas e crendices populares, descrevendo grotescos monstros e plantas fantásticas que existiriam no coração das matas: o Coruqueama, enorme e monstruoso ser, com mais de cinco metros de altura; os Guaiasis, minúsculos seres, ferozes, que andavam em bandos de centenas; as Giboiças, gigantescas serpentes que beiravam oito metros de comprimento; os Matuiús, criaturas com pés virados ao contrário e que, apesar desse fato, eram rapidíssimos; o Aí, bicho-preguiça gigante; a lara, metade mulher e metade peixe, que atraía pessoas para a morte em lagos e rios e a Simia Vulpina, misto de macaca e raposa, com cerca de três metros, morando nas mais altas árvores da floresta.
Também a flora era assustadora. Segundo essas antigas lendas, havia a Comedoras-de-Gente, grandes flores e tubos vegetais, que chegavam a engolir animais e pessoas; as Árvores-de-Vidro, cujas flores, frutos e folhas assemelhavam-se a vidro afiado e venenoso, cortando quem delas se aproximasse, e as Árvores-de-Fogo, que queimavam quem tocasse em seus galhos e folhas.
Numa época onde imperava a crendice e a superstição, essas histórias apavoravam quem ousasse penetrar na misteriosa floresta, repleta de perigos, normalmente, e acrescida desses mitos assustadores. Mas, por volta de meados do século XVII, uma gente que não se amedrontava com nada acabou adentrando as matas do Boigi. Homens rudes, de têmpera férrea e ambições sem medida, os Bandeirantes enfrentaram os perigos dos sertões e, por volta de 1682, fundaram um pouso em local propício. O pouso do Boigi seria o precursor da futura Mogi Mirim.